O tratamento por FIV (fertilização in vitro), considerada a principal técnica de reprodução assistida, é realizado em cinco etapas. Embora todas elas sejam fundamentais para o sucesso da técnica, duas são particularmente importantes: a fecundação e o cultivo embrionário.
Ambos os processos nos permitem um maior controle da reprodução humana, o que não acontece em uma gestação natural. Dessa forma, é possível aumentar as chances de gravidez de pessoas com infertilidade.
Com a evolução dos métodos laboratoriais, os embriões, atualmente, podem se desenvolver por cinco, seis ou até sete dias em laboratório para serem posteriormente transferidos ao útero, embora permanecer 6 ou 7 dias não seja uma regra nem um processo de rotina. Nessa fase de desenvolvimento, o embrião é chamado de blastocisto.
Para saber mais sobre o embrião em blastocisto, entender melhor o desenvolvimento embrionário e a importância desse processo, na gestação natural e na FIV, continue a leitura deste texto.
Um embrião é considerado blastocisto quando apresenta, principalmente, a blastocele, uma cavidade cheia de líquido que se forma na parte central do embrião durante os primeiros dias de seu desenvolvimento.
No início, após o espermatozoide fecundar o óvulo, é formada uma célula chamada zigoto ou célula-ovo, que contém os materiais genéticos (cromossomos e genes) maternos e paternos nas formas de pronúcleos. Esses pronúcleos se fundem e dão início ao processo de clivagem: divisão celular.
A clivagem ocorre por mitose, processo pelo qual uma célula se divide em duas idênticas, o que possibilita o desenvolvimento do embrião. Assim, primeiro temos um embrião unicelular, que evolui para 2 células, 4, 8, 16 e assim por diante.
Depois da primeira divisão celular, o zigoto passa a ser chamado de embrião, que vai crescendo dia a dia. Quando chega a cerca de 30 células, o embrião é chamado de mórula, e isso ocorre por volta do dia 4 de desenvolvimento.
O embrião recebe o nome de blastocisto aproximadamente no quinto dia de desenvolvimento, quando se formam o trofoblasto, a blastocele e o embrioblasto: estruturas que originarão o embrião e a placenta.
Nessa fase, as células já se dividiram e começam a se diferenciar por função. Para se ter uma ideia, enquanto a mórula é composta por dezenas de células, o blastocisto já possui centenas.
É durante essa etapa que o embrião chega ao útero e se implanta no endométrio (processo chamado de nidação), camada que reveste o útero, que vai nutri-lo e abrigá-lo até que a placenta seja formada.
No entanto, para que a implantação aconteça, é necessário que a zona pelúcida seja rompida, membrana presente já no óvulo que tem principalmente duas funções: impedir que dois espermatozoides ou um espermatozoide de outra espécie fecundem o óvulo; impedir que o material genético em desenvolvimento se separe durante seu percurso até o útero.
O processo de rompimento da zona pelúcida é chamado hatching ou eclosão.
Na fertilização in vitro, a fecundação é realizada em laboratório. Antes, porém, óvulos e espermatozoides precisam ser coletados.
Para a coleta dos óvulos, a mulher passa primeiro pela estimulação ovariana, um procedimento realizado com medicamentos hormonais para estimular o desenvolvimento de um número maior de folículos, já que em um ciclo natural a mulher libera apenas um, insuficiente para ter boas chances de sucesso de gestação na FIV, e depois pela coleta de óvulos por punção folicular.
Simultaneamente, as amostras de sêmen são coletadas e passam por um processo de preparo para a separação dos melhores espermatozoides a serem utilizados na fecundação. O objetivo é selecionar os que possuem melhor morfologia (forma) e motilidade (movimento).
Para fecundar os gametas, podemos utilizar duas técnicas: clássica e ICSI. Na FIV clássica, o óvulo é colocado em uma placa de Petri com uma solução nutritiva e circundado por mais de 100 mil espermatozoides, que se movimentam em direção ao óvulo para fecundá-lo.
Na ICSI, indicada principalmente para quando não temos uma quantidade suficiente de espermatozoides, o óvulo e os espermatozoides também são colocados na placa de Petri, mas nesse caso o embriologista utiliza um micromanipulador de gametas, que dispõe, principalmente, de microscópio e agulha, para capturar um espermatozoide e injetá-lo diretamente dentro do óvulo.
Tanto a FIV clássica como a ICSI formam embriões viáveis para a gestação, mas precisam primeiro se desenvolver.
Atualmente, os embriões podem ser cultivados em laboratório até o estágio de blastocisto, mas não necessariamente isso acontece. Também depende da indicação. Eles podem ser transferidos para o útero durante a fase de clivagem (D2 ou D3) ou de blastocisto (D5). O desenvolvimento dos embriões é acompanhado diariamente por um embriologista.
A opção pela transferência em D3 é importante em algumas situações estratégicas, principalmente quando há uma quantidade menor de óvulos ou em casos de fatores masculinos mais graves. Nesses casos, corremos o risco de não ter nenhum embrião em estágio de blastocisto se aguardarmos.
A transferência de embriões em estágio de blastocisto é indicada quando há uma boa quantidade de embriões e quando eles têm boa qualidade. Também consideramos a transferência nesse estágio quando indicada a realização de técnicas complementares específicas, como o teste genético pré-implantacional (PGT), que evita a transmissão de doenças genéticas específicas.
Assim, ao mesmo tempo que a FIV permite o acompanhamento mais criterioso de etapas como a fecundação e cultivo embrionário, as técnicas complementares podem aumentar o sucesso gestacional por ciclo de realização do tratamento em alguns casos e evitar a transmissão de alterações genéticas aos descendentes.
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