As infecções do trato genital masculino são causa frequente de infertilidade por fator masculino, podendo estar envolvidas em aproximadamente 15% dos casos. Dependendo da localização, a produção, o transporte ou a função dos espermatozoides pode estar comprometida.
As infecções do trato genital masculino são, na maioria dos casos, assintomáticas e geralmente permanecem sem diagnóstico, a menos que o paciente busque tratamento para sintomas específicos. No entanto, à luz do crescente número de pacientes que procuram tratamento para infertilidade, o diagnóstico dessas infecções deve receber atenção, pois podem levar ao quadro de astenozoospermia e são causas potencialmente tratáveis de infertilidade masculina.
Essas infecções, dependendo da localização, desenvolvem um quadro de uretrite, prostatite, epididimite e/ou orquite e são, na maioria dos casos, causadas pelas seguintes bactérias: Chlamydia, Ureaplasma, Neisseria e Mycoplasma (veja esquema anatômico da figura XX), levando a um aumento do número de leucócitos (células inflamatórias) no sêmen.
Em pacientes assintomáticos, os leucócitos frequentemente aparecem no ejaculado, mesmo em homens férteis. Numerosos estudos mostraram que os leucócitos podem levar à formação de espécies reativas de oxigênio (ROS) e podem prejudicar a função dos espermatozoides e a integridade do DNA espermático.
O diagnóstico da infecção pode ser feito pela presença de bactérias na cultura seminal.
Seguem considerações sobre cada tipo de infecção.
A uretrite é uma inflamação ou infecção do canal da uretra, por onde passa a urina, e, no caso do homem, por onde passa o sêmen no momento da ejaculação.
Em muitos casos, a infecção é assintomática. Em outros casos, pode apresentar: sangue na urina e/ou no sêmen; maior frequência da vontade de urinar; secreção pela uretra; disúria, que é a dificuldade para urinar que pode ser acompanhada de dor; dor na relação sexual e/ou ejaculação; coceira; e/ou febre e mal-estar.
O diagnóstico é feito pela história clínica e cultura de urina e/ou sêmen.
O tratamento é feito com antibióticos e recomenda-se o uso de preservativos, além do tratamento da parceira, por se tratar de doença sexualmente transmissível.
A orquite é a inflamação de um ou dos dois testículos. É causada, na maioria dos casos, por vírus, principalmente o da caxumba, mas também pode ser causada por bactérias ou trauma local. A doença pode ser aguda ou crônica e se estender ao epidídimo, quando é chamada de orquiepididimite.
A caxumba é uma doença infecciosa causada por vírus e transmitida por gotículas de saliva. Essa inflamação acontece frequentemente nas glândulas parótidas (que ficam atrás das orelhas), mas eventualmente o vírus também se instala nos testículos, causando a orquite. O vírus da caxumba é um dos maiores responsáveis pela orquite e é a causa mais preocupante porque pode levar à infertilidade, se adquirida por homens depois da puberdade. Estima-se que até 40% dos adultos jovens acometidos pela parotidite possam evoluir com orquite e metade dos adultos jovens atingidos pela orquite possam ficar inférteis depois da infecção.
A prevenção da caxumba é feita pela vacinação e devemos ainda evitar o contato com pessoas sabidamente contaminadas.
A orquite também pode ser causada por bactérias, como a Escherichia coli, por traumatismo, torção dos testículos ou infecção por gonorreia e clamídia. Já a orquite bacteriana afeta, de modo geral, o epidídimo e é causada principalmente pela bactéria Mycobacterium sp, mas há outras que podem provocar a doença, como Haemophilus e Treponema pallidum.
Os principais sintomas são inchaço e dor nos testículos; vermelhidão na região escrotal; sangue na ejaculação e/ou na urina; febre e mal-estar em alguns casos.
O tratamento depende da causa da orquite. A bacteriana requer o uso de antibióticos. Nos demais casos, usam-se anti-inflamatórios e aplicam-se compressas geladas. No caso da orquite associada à caxumba, a melhor maneira de evitar essa consequência é a vacinação.
O epidídimo é um ducto por onde os espermatozoides passam pelo processo de maturação.
A epididimite é uma inflamação do epidídimo causada principalmente por bactérias, como Chlamydia e Neisseria, e pode, mesmo que raramente, levar à infertilidade. Quando o testículo também é afetado, a doença é denominada epidídimo-orquite.
É principalmente transmitida pelo contato sexual, mas também pode ser causada pelo fluxo retrógrado de urina, em pacientes com distúrbio da micção.
Os sintomas mais comuns da epididimite são: dor ao urinar, nos testículos, no baixo abdômen e/ou na pelve; ejaculação ou ato sexual com dor; vontade de urinar com maior frequência; indícios de sangue no sêmen; escroto avermelhado, inchado ou mais quente; intumescimento dos gânglios linfáticos da virilha; presença de secreção e febre.
O tratamento é feito com antibióticos e recomenda-se o uso de preservativos, além do tratamento da parceira, por se tratar de doença sexualmente transmissível.
A próstata é uma glândula sexual masculina localizada na porção inicial da uretra (abaixo da bexiga), que, com as vesículas seminais, produz o líquido espermático, fundamental para a fertilidade, pois representam aproximadamente 30% do volume seminal.
A prostatite aguda é o termo utilizado para designar uma inflamação ou infecção da próstata. O principal agente causador da prostatite bacteriana, a Escherichia coli, também provoca diversas infecções urinárias. Esse tipo de prostatite pode ser desencadeada: por outra infecção, situada na uretra, que sobe para a próstata; por bactérias presentes no reto ou que chegam pela corrente sanguínea; e pelo retorno de urina infectada aos ductos prostáticos.
Já a prostatite de origem não bacteriana não tem uma causa bem definida e acomete pacientes sem histórico de infecção por bactérias no trato urinário. A hipótese é a de que ela seja causada pelo refluxo de urina, o que causa uma irritação na glândula.
O mecanismo pelo qual as prostatites causam infertilidade não são totalmente conhecidos. Acredita-se que ela possa causar disfunções ou dificuldades para a ejaculação, diminuição do volume de sua secreção e aumento de produção de substâncias inflamatórias, que pioram a qualidade dos espermatozoides.
Esses fenômenos acontecem tanto nas tentativas de gestação natural, como com o auxílio das técnicas de reprodução assistida, motivo pelo qual devemos fazer uma avaliação cuidadosa dos homens, quando avaliamos um casal infértil.
Devido ao processo inflamatório, ocorre um inchaço da próstata e compressão do canal uretral. Assim, os sintomas podem incluir: calafrios, febre, ardor intenso ao urinar e até incapacidade de esvaziar a bexiga. Pode também sentir uma sensação de queimação ou presença de algo parecido com pus na urina.
Caso apresente esses sintomas, o paciente deverá ser avaliado por um urologista, que fará exame físico detalhado e, se necessário, solicitará exames complementares, como de urina.
O tratamento varia conforme o tipo de prostatite, de modo geral, analgésicos e anti-inflamatórios podem ser usados para aliviar a dor do paciente.
O tratamento da prostatite aguda bacteriana é à base de antibióticos, por no mínimo 2 semanas e pode ser. A urocultura é um exame importante para avaliar a efetividade do tratamento e escolha do melhor antibiótico.