A endometriose é caracterizada pela presença de tecido endometrial fora da cavidade uterina e afeta milhões de mulheres no mundo todo, estima-se que aproximadamente 10% delas em idade reprodutiva.
A doença se manifesta de diversas formas, com a presença de implantes, de aderências pélvicas ou de um tipo de cisto ovariano chamado endometrioma. Muitas vezes, há a presença simultânea de diferentes tipos de lesões, em diferentes graus de acometimento.
Essa doença pode afetar a fertilidade alterando a função tuba-ovariana, transporte de gametas, receptividade endometrial e induzindo uma reação inflamatória que leva a alterações na qualidade e função dos óvulos e espermatozoides.
Já os endometriomas podem provocar especialmente um efeito na qualidade dos óvulos e um declínio quantitativo na reserva ovariana.
Continue a leitura para entender melhor a relação entre eles e a reserva ovariana.
A endometriose pode estar presente na forma de implantes clássicos localizados na superfície de um ou ambos os ovários, mas também pode ser encontrada nas profundezas deles. A endometriose ovariana profunda forma cavidades escuras cheias de líquido que podem variar em tamanho, conhecidas como endometriomas ou ‘cistos de chocolate’.
Vários estudos sugerem que a presença de endometriomas tende a provocar danos ao tecido ovariano, acarretando redução na reserva ovariana. Eles demonstram, por exemplo, que os níveis de mulheres com endometriomas são mais baixos quando comparados com mulheres saudáveis com idade semelhante ou mulheres com outros cistos ovarianos benignos.
Reserva ovariana é o termo utilizado para definir a quantidade de folículos (estruturas como bolsas que contêm os óvulos) presentes nos ovários. As mulheres nascem com milhares de folículos, número que reduz na puberdade e, posteriormente, a cada ciclo menstrual.
A reserva ovariana diminui progressivamente com o envelhecimento, mas também pode ser alterada por várias condições, estando os endometriomas entre elas.
A má qualidade dos óvulos também reflete na dos embriões formados se houver fecundação, podendo resultar em falhas na implantação e abortamento, tanto em gravidez espontânea como nos tratamentos de reprodução assistida.
A reserva ovariana reduzida é a principal preocupação quando há infertilidade provocada pela doença. Além disso, mulheres com endometriomas têm um percentual muito alto de chances de apresentarem lesões associadas à endometriose infiltrativa profunda, estágio mais avançado.
Essas lesões respondem muito mal ao tratamento médico e têm o potencial de destruir todo o tecido ovariano saudável, levando a problemas com a ovulação ou diminuição da função ovariana, assim como à falência ovariana.
Os sintomas dos endometriomas são semelhantes aos sintomas da endometriose. Para falar deles, apresentamos os 6 Ds da endometriose:
Dor na região pélvica, que se manifesta repentinamente ou de forma intermitente, pode ocorrer quando os endometriomas rompem: ela geralmente é pulsante, aguda, frequentemente piora durante o dia e geralmente ocorre do lado em que o cisto está localizado. Se isso ocorrer, é importante procurar ajuda médica com urgência.
A definição do tratamento depende de diversos fatores, como idade da paciente, severidade dos sintomas, se um ou ambos os ovários foram afetados e o desejo de engravidar.
Para pequenos cistos que não causam sintomas, a opção, muitas vezes, pode ser apenas de observação periódica por meio de exames ultrassonográficos.
Quando os sintomas são leves e não há o desejo de engravidar, medicamentos hormonais podem ser indicados para evitar a ovulação, controlar a dor e retardar o crescimento do cisto que, entretanto, mesmo de forma mais lenta pode continuar a se desenvolver, assim como novos também podem surgir.
A cirurgia geralmente é indicada quando existe dor pélvica crônica grave: a observação e o tratamento médico geralmente não costumam ser eficazes no alívio dos sintomas mais severos associados aos endometriomas, ao contrário da cirurgia conservadora. No entanto, ela pode prejudicar a reserva ovariana e, assim, a fertilidade. Por isso, indicamos que a paciente faça o congelamento dos óvulos antes da intervenção.
O procedimento é conhecido como cistectomia ovariana e também é recomendado se os cistos forem maiores do que 4 cm. Prevê a excisão ou remoção cirúrgica dos endometriomas. Isso pode reduzir significativamente os sintomas e mesmo melhorar a fertilidade.
A técnica utilizada geralmente é a videolaparoscopia, minimamente invasiva, que utiliza um laparoscópio, instrumento ótico com uma câmera acoplada que proporciona a iluminação adequada do espaço operacional e transmissão, em tempo real, das imagens para um monitor.
A excisão de endometriomas maiores, no entanto, pode afetar seriamente a reserva ovariana, resultando na falência ovariana, quando há perda da função dos ovários: no momento da retirada, os folículos próximos são perdidos.
A remoção de endometriomas geralmente não é recomendada para mulheres que planejam uma fertilização in vitro (FIV) devido ao risco de afetar a reserva ovariana e reduzir as chances de obter a quantidade de óvulos saudáveis necessária para a fecundação.
Para as mulheres que vão ser submetidas à cirurgia, antes ou durante o tratamento, geralmente indicamos o congelamento de óvulos, técnica complementar ao procedimento que garante a preservação da fertilidade.
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