A endometriose é considerada atualmente a principal causa de infertilidade feminina, afetando milhões de mulheres no mundo todo.
A alta incidência é justificada em estudos, que estabelecem uma relação da doença com o estilo de vida contemporâneo, como a gravidez tardia, também uma tendência mundial. A gravidez tardia também pode estar relacionada ao desenvolvimento da endometriose por causa de uma exposição mais prolongada ao estrogênio, hormônio que está presente durante o ciclo menstrual e tem muitas funções no corpo feminino.
Muitas vezes, a endometriose é assintomática e acaba sendo diagnosticada apenas quando já está em estágios mais avançados. Nessa fase, é chamada endometriose infiltrativa profunda e pode causar alterações na fertilidade feminina. A endometriose superficial e os endometriomas também podem causar infertilidade, dependendo das características da doença.
Para entender quais alterações a endometriose infiltrativa profunda pode provocar na fertilidade feminina, é só continuar a leitura deste texto até o final.
O útero é o maior órgão do sistema reprodutor feminino, responsável pelo desenvolvimento da gravidez. É formado por três camadas: endométrio, a interna; miométrio, a intermediária; e serosa, a externa.
O endométrio é um tecido epitelial altamente vascularizado no qual o embrião se implanta para dar início ao desenvolvimento da gravidez. Para isso, se torna mais espesso durante cada ciclo menstrual.
Essa ação é estimulada pelo estrogênio e a progesterona contribui para o espessamento final. Quando não ocorre a fecundação do óvulo, os níveis hormonais diminuem, provocando a descamação da camada funcional do endométrio e a menstruação.
Na endometriose, um tecido semelhante ao endométrio cresce fora do útero, mais comumente em regiões próximas, como peritônio, ovários, tubas uterinas, ligamentos uterossacros, bexiga ou intestino.
Assim, um dos critérios para classificar a doença é o local de crescimento, o que também interfere na fertilidade e nos possíveis sintomas. A quantidade e profundidade das lesões, que podem se apresentar como implantes, aderências pélvicas ou endometriomas, e o comprometimento funcional do órgão também são considerados.
A endometriose é classificada em três subtipos morfológicos, sendo um deles a endometriose infiltrativa profunda. A doença também pode ser peritoneal superficial e endometriomas. Na endometriose infiltrativa profunda, geralmente há a presença de múltiplos implantes, superficiais e profundos, além de endometriomas e de aderências densas e firmes, em diferentes locais, sendo geralmente a forma mais grave da doença.
As lesões da endometriose infiltrativa profunda geralmente estão localizadas nos ligamentos uterossacros (tecido fibroso que se estende da parte posterior e superior do colo do útero até o sacro, ou osso), nos ovários, nas tubas uterinas, assim como podem atingir o septo retovaginal (espaço localizado entre a vagina e o reto), as paredes da vagina, o reto e o sigmoide (seção que liga a porção transversal do intestino grosso ao reto), a bexiga e os ureteres.
Mulheres com endometriose infiltrativa profunda apresentam geralmente todos os outros subtipos: as lesões são superficiais e profundas, além da presença de endometriomas. Assim, oferece diferentes riscos para a fertilidade.
O tecido ectópico, por exemplo, desde o início da doença, produz prostaglandinas, citocinas pró-inflamatórias. Essas substâncias podem afetar o desenvolvimento e amadurecimento dos folículos ovarianos, resultando em problemas de ovulação, da mesma forma que afetam a qualidade dos óvulos e o ciclo endometrial, podendo provocar, nesse caso, falhas na implantação do embrião e aborto.
No estágio avançado, com o tecido ectópico mais desenvolvido, essas interferências são ainda maiores. Os endometriomas, comuns em mulheres com endometriose infiltrativa profunda, também causam o mesmo efeito.
Ainda, como consequência do processo inflamatório, as aderências são mais densas. Quando estão presentes nos ovários, impedem a liberação do óvulo e, nas tubas uterinas, a captação dele. Ou seja, em ambos os casos, inibem o processo de ovulação.
As aderências podem, ainda, causar distorções na anatomia do útero ou da cavidade pélvica, dificultando ou impedindo o desenvolvimento da gravidez, o que também pode provocar aborto.
Em estágios mais avançados, a endometriose pode causar, ao mesmo tempo, sintomas como cólicas severas, antes e durante a menstruação, sangramento abundante, dor aguda e pulsante quando os endometriomas se rompem.
Esses sintomas impactam a qualidade de vida das mulheres portadoras da doença, levando, muitas vezes, ao afastamento social ou interferindo nas relações pessoais, e são um importante alerta para a presença da doença, normalmente assintomática em estágios iniciais.
No entanto, ainda que provoque diversas interferências na saúde feminina, o tratamento de endometriose possibilita a obtenção da gravidez em boa parte dos casos quando a mulher deseja engravidar.
O tratamento de endometriose infiltrativa profunda quando a mulher deseja engravidar é realizado por cirurgia ou pela fertilização in vitro (FIV), considerada a principal técnica de reprodução assistida.
A cirurgia tem como propósito a remoção da maior quantidade possível de aderências, implantes ou endometriomas e a correção da anatomia uterina, mas pode afetar a reserva ovariana, por isso precisamos analisar cada caso individualmente. É realizada por videolaparoscopia, técnica minimamente invasiva que evita danos às regiões afetadas pela doença.
Antes da cirurgia, também é importante fazer o congelamento de óvulos, técnica que possibilita ter filhos mais tarde, quando a mulher julgar que está pronta.
Após a remoção, a possibilidade de obter a gravidez aumenta, mas não é uma certeza. Quando a mulher não consegue engravidar após a remoção, a FIV é indicada.
Na FIV, a mulher é submetida à estimulação ovariana, procedimento que estimula o desenvolvimento e amadurecimento de mais folículos, garantindo mais óvulos para a fecundação, solucionando os problemas de ovulação provocados pela inflamação ou por endometriomas e aderências nos ovários.
Apenas os melhores óvulos são selecionados para a fecundação, que ocorre em laboratório. Com a seleção dos óvulos, são formados embriões de maior qualidade. Dessa forma, os problemas de qualidade embrionária e de obstruções nas tubas uterinas são contornados, pois elas não possuem nenhuma função nesse processo.
O tratamento por FIV proporciona ótimos percentuais de sucesso por ciclo de realização: em média 50%.
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