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Gravidez ectópica e endometriose: tem relação?

A endometriose é uma doença inflamatória crônica que pode se apresentar de diferentes maneiras — em termos de sintomatologia, morfologia e gravidade. É uma das principais causas de infertilidade feminina, além de trazer outros prejuízos à qualidade de vida da mulher. A doença é caracterizada por implantes de células uterinas em outros órgãos da pelve — embora raros, também existem casos de lesões extrapélvicas.

A camada interna do útero, chamada de endométrio, modifica de espessura no decorrer do ciclo menstrual para estar em condições adequadas de receber um embrião. Se não ocorrer fecundação, o tecido se desfaz e ocasiona a menstruação. Dentre os hormônios reprodutivos, o estrogênio é o que mais ativa as respostas endometriais.

A ação estrogênica cíclica influencia tanto as células do endométrio (intrauterinas) quanto os implantes de tecido endometrial ectópico (extrauterino), o que provoca os processos inflamatórios nos órgãos afetados. Os focos de endometriose são mais comuns em partes como tubas uterinas, ovários, peritônio, ligamentos uterossacros, região retrocervical, intestino e bexiga.

Quando a doença acomete o peritônio (membrana que recobre a cavidade abdominal e pélvica), mas sem implantes profundos, o quadro é chamado de endometriose peritoneal superficial. Quando o tecido se infiltra nos ovários, provocando a formação de cistos, dá-se o nome de endometriomas, ou endometriose ovariana.

O tipo mais grave da doença, visto que pode desencadear sintomas mais intensos, é a endometriose infiltrativa profunda. Nesse caso, as células endometriais se infiltram por mais de 5 mm, formando aderências e obstruções, a ponto de interferir nas funções dos órgãos afetados — o que pode ocorrer nas tubas uterinas, aumentando o risco de uma gravidez ectópica.

Agora, continue a leitura para compreender o que é gravidez ectópica, como a endometriose aumenta os riscos dessa intercorrência e quais são as formas de evitar que isso aconteça!

O que é gravidez ectópica?

Uma gravidez ectópica ocorre quando o óvulo fertilizado se implanta em local anômalo, isto é, fora da cavidade do útero. Na maioria dos casos, a implantação embrionária acontece na tuba uterina, sendo também chamada de gestação tubária. Contudo, também é possível que o embrião comece a se desenvolver em um ovário, no colo do útero ou em outras partes da região abdominopélvica.

O feto precisa das condições oferecidas pelo útero materno para se desenvolver, portanto não consegue sobreviver em locais extrauterinos. Assim, a tendência é que ocorra a ruptura da gravidez ectópica, o que deve levar a mulher à busca por ajuda médica imediata, caso contrário, as consequências podem ser fatais. Dor abdominal repentina e sangramento vaginal são indícios dessa complicação.

Em estruturas fora do útero, mesmo sem o fornecimento necessário de sangue e nutrientes para a evolução fetal, a gravidez ectópica pode chegar às 16 semanas. Quanto mais a ruptura ocorrer, maior é o risco de morte materna devido à perda sanguínea excessiva. No entanto, é possível evitar esse risco e tratar o quadro de forma precoce.

Uma ultrassonografia no primeiro trimestre gestacional ajuda a identificar a localização exata do embrião. Caso a gravidez ectópica seja detectada, o tratamento medicamentoso pode ser realizado para interromper a gestação o quanto antes a fim de garantir a segurança da mulher.

A endometriose aumenta o risco de gravidez ectópica?

Sim, existe relação entre as duas condições. Primeiramente, vale lembrar que as tubas uterinas têm a função de capturar o óvulo liberado pelo ovário e conduzi-lo para que seja fertilizado. Na própria tuba, ocorre o encontro entre espermatozoide e óvulo e o processo de fecundação. Depois disso, o embrião gerado se movimenta pelo canal tubário até chegar à cavidade do útero, onde deve se implantar para iniciar a gestação.

Na endometriose, principalmente na doença infiltrativa profunda, o tecido endometrial ectópico pode resultar em aderências no interior das tubas, chegando a obstruir o canal em diferentes pontos. Assim, a oclusão pode tanto impedir a ascensão dos espermatozoides e seu encontro com o óvulo, configurando infertilidade feminina, quanto bloquear o trajeto do embrião até o útero.

Portanto, como o óvulo fertilizado não consegue progredir até o útero, ele pode acabar se implantando ali mesmo no revestimento da tuba uterina, iniciando a gravidez ectópica.

Qual é a conduta adequada nesses casos?

Mulheres com endometriose precisam de acompanhamento médico para o controle da doença — exista a intenção de gravidez ou não. Isso porque a doença pode trazer vários prejuízos à vida da portadora e o tratamento é essencial para reduzir os sintomas e restaurar o bem-estar físico e emocional.

A conduta terapêutica da endometriose é individualizada, considerando fatores como nível de comprometimento dos órgãos, intensidade dos sintomas e intenção de gravidez. Tanto a doença em si quanto o tratamento cirúrgico podem ser arriscados para a fertilidade feminina, portanto a decisão médica deve ser bem ponderada e alinhada às características de cada caso.

De modo geral, mulheres com endometriose podem optar por:

  • tratamento medicamentoso hormonal, porém quando não há desejo reprodutivo;
  • tratamento cirúrgico, sobretudo quando há comprometimento funcional de outros órgãos e sintomas intensos;
  • técnicas de reprodução assistida para mulheres com prejuízos nos órgãos reprodutores que desejam engravidar.

Mulheres que passam por ruptura de gravidez ectópica são encaminhadas à cirurgia para remoção do feto, da placenta e de parte da tuba uterina. Sendo assim, a danificação tubária pode agravar um quadro já existente de infertilidade feminina por endometriose. O procedimento cirúrgico normalmente é feito por videolaparoscopia, técnica minimamente invasiva, mas, se necessário, também é realizado por laparotomia (operação com incisão no abdômen).

Como a reprodução assistida pode ajudar?

A reprodução assistida conta com várias técnicas que auxiliam na superação dos fatores de infertilidade masculina e feminina. Nos casos de endometriose grave com danos tubários, a fertilização in vitro (FIV) é indicada.

Na FIV, os óvulos e espermatozoides são coletados dos pacientes e preparados em laboratório. A fecundação ocorre fora do útero e os embriões gerados são monitorados por até 5 dias em incubadoras específicas. Somente depois de todo o processo reprodutivo controlado é que os embriões são transferidos diretamente para o útero da futura mãe.

Como visto, na gravidez obtida por FIV, os gametas e embriões não passam pelas tubas uterinas, portanto não há risco de gravidez ectópica. Além disso, outra possibilidade complementar à FIV é o congelamento de óvulos antes da paciente passar pelo tratamento cirúrgico da endometriose. Assim, é feita a preservação da fertilidade, caso a cirurgia lesione os ovários.

Leia também nosso texto exclusivo sobre endometriose para ter mais informações acerca dessa doença!

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