Dr João Dias | WhatsApp
Agende sua consulta

Precisamos falar sobre endometriose

Imagine um problema de saúde que dificulta a capacidade do espermatozoide do seu parceiro de migrar e atingir os seus óvulos nas tubas uterinas; dificulta o caminho, distorcendo as suas tubas uterinas como consequência de um processo de inflamação e cicatrização extrema; compromete os seus ovários, diminuindo a reserva de óvulos, piorando a qualidade dos seus óvulos, fazendo com que você possa formar um embrião de pior qualidade; e dificulta o processo de implantação.

Estou falando da endometriose, um problema de saúde pública que atinge 15% da população mundial. Até 50% dos casos de infertilidade são diagnosticados como endometriose e, por isso, neste mês de março a gente precisa discutir um pouco sobre esse problema.

Apesar de esses dados de fisiologia, de imunologia e de anatomia nos deixarem preocupados, a primeira informação importante é que nem toda portadora de endometriose vai ter infertilidade: metade delas não vão ter.

A segunda informação é que nem todas vão ter dor pélvica crônica e piora da qualidade de vida. Então, muitas vezes você vai receber o diagnóstico de endometriose e não tem dor, tem dois filhos, sem maiores preocupações. Nesse caso, você só vai ter que ser acompanhada pelo seu ginecologista. Discuta isso com ele.

Quando a paciente nos procura com o diagnóstico de infertilidade, a endometriose tem que ser a primeira doença a ser pesquisada. Embora existam outras muito frequentes, como a síndrome dos ovários policísticos (SOP), alteração da qualidade espermatozoide de seu marido ou alteração das tubas uterinas por outros problemas, nesse momento, vamos abordar a endometriose.

As portadoras de endometriose chegam a perder oito anos das suas vidas procurando o seu diagnóstico. Elas sentem dor, cólica, dor para ter relação sexual, têm dificuldade para engravidar e muitas vezes procuram ajuda e dizem: “Não, você está muito preocupada, está muito estressada. Quando relaxar, vai engravidar e tudo isso vai passar”.

Quem vai relaxar com dor todos os dias? Quem vai relaxar querendo engravidar e sabendo que para a gravidez acontecer é preciso ter relação sexual? Só que há dor durante a relação sexual, o que inviabiliza a vida sexual adequada e prazerosa dessas pacientes. Desse jeito, fica difícil relaxar.

Assim, essa doença, que muitas vezes foi chamada de silenciosa, talvez só não tenha sido bem ouvida. Ela sempre mostrou os seus sintomas e talvez a gente não tenha dado atenção adequada a eles. Por isso, como parte dessa conscientização, vamos começar falando sobre os sintomas.

Principais sintomas da endometriose

Sempre digo para as minhas pacientes que a endometriose é a doença dos seis “Ds”. Vou falar sobre cada um deles:

  • o primeiro D é a dor menstrual ou dismenorreia;
  • o segundo D é a dor para ter relação sexual lá no fundo da vagina, que é a dispareunia de profundidade;
  • o terceiro D é a dor pélvica crônica ou acíclica. É aquela dor pélvica que não precisa ter relação com o período menstrual e que tem uma duração de mais de seis meses;
  • o quarto D é a dificuldade ou a dor para evacuar durante a menstruação. O intestino funciona adequadamente, mas durante a menstruação a mulher sente mais dor para evacuar, podendo muitas vezes até ter um sangramento no processo;
  • o quinto D é a dor para urinar durante a menstruação. As pacientes, às vezes, relatam que parece que têm infecções urinárias de repetição. Porém, quando se pesquisa corretamente a dor, ela ocorre particularmente durante a menstruação, provavelmente provocada por um foco de endometriose;
  • o sexto e último D, meu dia a dia, é a dificuldade para a mulher engravidar.

A atenção a esses seis Ds, portanto, é fundamental. Converse sobre isso com suas amigas. Sempre brinco: é papo de WhatsApp, de restaurante. É importante conversar a respeito porque esse tipo de sintoma é muito mais frequente do que se pode imaginar.

Diagnóstico e tratamento da endometriose

Também é muito importante saber que é possível fazer o diagnóstico da endometriose de uma maneira não invasiva e muito eficiente. E o Brasil é pioneiro nisso ao desenvolver métodos diagnósticos não invasivos, como o ultrassom com preparo intestinal realizado por um profissional adequado para avaliar a presença ou não de endometriose.

Temos orgulho de ter na Originare profissionais como o Dr. Leandro e a Dra. Luciana, que fazem esse diagnóstico de maneira primorosa.

Outro método também muito efetivo é a ressonância magnética. Apesar de o exame ser um pouco desconfortável, pois é necessário ficar dentro do tubo para fazer a ressonância, é muito efetivo para o diagnóstico não invasivo da endometriose.

Por que discutir isso de maneira tão enfática? Porque até hoje ainda recebemos informações de pacientes que se submeteram à cirurgia para fazer um diagnóstico: “Fiz uma laparoscopia para diagnosticar minha doença”.

Laparoscopia é uma cirurgia. E isso, nos dias atuais, não deve acontecer mais. A gente tem que optar pela cirurgia quando necessário, sim, mas munido de todas as informações para se estabelecer o melhor tratamento cirúrgico, o que chamamos de ‘one shot surgery’, ou seja, uma única cirurgia, a mais completa possível para melhorar os sintomas da paciente, restaurar a fertilidade e oferecer melhor qualidade de vida.

Sempre situamos as pacientes em dois grandes grupos: se tem dor ou infertilidade. Muitas têm as duas coisas. Assim, discutimos com ela qual o principal problema naquele momento. Para as que têm dor, oferecemos tratamentos hormonais como pílulas contraceptivas, adesivos, que têm a mesma função da pílula, ou DIUs medicados com Levonorgestrel, um tipo de hormônio. Esses métodos vão tratar os sintomas da doença, evitando que a paciente sofra no seu dia a dia.

A paciente que tem dor, muitas vezes, não melhora com o tratamento clínico. Nesse momento, é preciso discutir a cirurgia, cuja melhora das várias apresentações de dor que as portadoras de endometriose têm é comprovada cientificamente.

No entanto, se a paciente quiser engravidar, não vai poder fazer nenhum tratamento clínico porque os métodos contraceptivos, como a pílula, impedem a ovulação. Ao impedirem a ovulação, não é possível engravidar naturalmente nem com técnicas de reprodução assistida.

Para quem quer engravidar, tenho dois caminhos, a cirurgia ou as técnicas de reprodução assistida, principalmente a fertilização in vitro (FIV).

Para quem que a gente escolhe um tratamento ou outro? Em medicina, regras muito fechadas não são muito inteligentes; temos que individualizar o tratamento. Mas, em linhas gerais, a mulher que tem a possibilidade de ser submetida a um tratamento cirúrgico para melhorar suas chances de sucesso costuma ter que:

  • ter menos do que 35 anos, com uma boa reserva de óvulos;
  • o marido não pode ter alteração na qualidade de espermatozoides;
  • o comprometimento, a gravidade ou a classificação da endometriose tem que ser mais benigna, digamos assim;
  • ter o desejo de tentar seguir em frente com uma técnica cirúrgica e suas potenciais complicações, que vai oferecer um resultado de acordo com as características mencionadas.

Já as portadoras de endometriose com mais de 35 anos, ou com uma baixa reserva ovariana, ou o status tubário alterado (tubas uterinas não adequadas), ou a qualidade do espermatozoide do marido ruim, ou com adenomiose associada, ou que desejam procurar por uma técnica de tratamento que ofereça um resultado maior e mais ágil merecem receber técnicas de reprodução assistida, como a FIV.

Então, especialmente neste mês de março, conscientize-se sobre o poder que você tem ao conhecer os sintomas de uma doença frequente, que vai piorar a qualidade de vida, causar dor e pode causar infertilidade.

Compartilhe essas informações com suas conhecidas. Saiba que nem todas as mulheres com diagnóstico de endometriose precisam de tratamentos específicos, mas aquelas que precisam devem procurar centros de excelência que possam realizar um diagnóstico adequado para uma programação de tratamento também adequada, proporcionando maiores chances de gravidez, melhor qualidade de vida e uma vida sem dor.

Converse sobre isso com as suas amigas. Siga o link, assista ao vídeo que aborda o assunto e o encaminhe para os seus conhecidos, porque informação de qualidade sempre vale a pena.

Compartilhar:
Quero engravidar, mas não quero FIV. O que fazer?
Deixe o seu comentário:

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *