Muitas pessoas são diagnosticadas com câncer muito jovens, quando ainda não têm filhos. Para se ter uma ideia, aproximadamente 7% das pacientes são diagnosticadas com câncer de mama antes dos 40 anos de idade. Felizmente, os tratamentos oncológicos evoluíram nas últimas décadas, oferecendo a possibilidade de cura para muitos pacientes. No entanto, de modo geral, são agressivos ao corpo, principalmente à fertilidade, tanto do homem como da mulher. As células germinativas são sensíveis e, quando expostas aos quimioterápicos ou à radioterapia, morrem e se tornam incapazes de produzir os gametas.
O diagnóstico de câncer traz consigo muitas preocupações imediatas, e o paciente pode não pensar no período pós-tratamento. Como atualmente muitos pacientes conseguem a cura, no futuro passarão a pensar em ter filhos. Nesses casos, é importante preservar a fertilidade antes do início do tratamento contra o câncer, e esse procedimento não precisa atrasar o início do tratamento, nem causará riscos de aumento dos níveis de hormônios, o que pode ser uma preocupação em muitos casos.
Leia o texto e veja como isso pode ser feito!
Uma grande parte dos tratamentos oncológicos pode causar danos à formação dos espermatozoides e à quantidade de óvulos. As técnicas de reprodução assistida podem ajudar os pacientes com diagnóstico de câncer a preservar sua fertilidade antes de ser iniciado o tratamento oncológico. Existem formas para preservar a fertilidade, sendo uma delas o congelamento de óvulos e sêmen.
Existem diversas modalidades de tratamento com objetivos de preservar os óvulos das mulheres que serão submetidas a tratamentos oncológicos:
O congelamento de oócitos é a abordagem ideal para mulheres sem parceiro, pois elas podem utilizá-los a qualquer momento no futuro, conforme seu desejo, sem a necessidade de aprovação do homem que forneceu os espermatozoides para a formação do embrião.
O congelamento de embriões, também conhecido como criopreservação de embriões, requer a presença do marido ou de um doador de espermatozoides no momento que os óvulos são retirados dos ovários da mulher e fertilizados pela fertilização in vitro (FIV). Os embriões são então congelados.
Tanto o congelamento de oócitos como o de embriões requer a utilização de técnicas de reprodução assistida posteriormente para a mulher conseguir engravidar.
O congelamento de tecido ovariano é o tratamento mais recente e apresenta resultados ainda inferiores ao congelamento de óvulos. No entanto, em alguns casos a mulher não pode se submeter à estimulação ovariana e essa se torna uma opção importante. Nesse procedimento, uma parte do tecido ovariano é retirado por videolaparoscopia e congelado. Quando a mulher quiser ter filhos, esse tecido é descongelado e reimplantado no organismo feminino, que volta a produzir os oócitos. Nesse caso, existe a possibilidade de gravidez natural.
O homem também pode ter sua fertilidade prejudicada ao receber tratamento oncológico com químio ou radioterapia, portanto deve receber todas as orientações necessárias para preservar sua fertilidade.
O processo de preservação oncológica nos homens é mais simples e rápido. A única forma de preservar a fertilidade masculina é por meio do congelamento de espermatozoides, que deve ser feito antes do início do tratamento contra o câncer.
Existem diferenças nos procedimentos de congelamento de óvulos, embriões e espermatozoides.
A criopreservação de espermatozoides é um procedimento mais simples. De modo semelhante a um exame de espermograma, o homem faz a coleta dos gametas por masturbação em laboratório, e o material coletado é congelado e pode ser solicitado após o tratamento quando o paciente tiver a intenção de ter um filho.
A primeira etapa do congelamento de óvulos é a estimulação ovariana e a indução da ovulação, procedimento acompanhado por um profissional médico especializado na área. Inicialmente, o médico prescreve medicamentos que estimulam os ovários a amadurecerem uma quantidade maior de folículos. O crescimento dos folículos é acompanhado por ultrassonografias seriadas, até que os folículos atinjam 18 mm.
Nesse momento, é administrado na mulher um medicamento para induzir a ovulação, ou seja, o rompimento desses folículos para liberação dos óvulos. Cerca de 35 horas depois é feita a punção ovariana, procedimento que coleta os óvulos diretamente dos ovários.
Os óvulos coletados são congelados e a paciente poderá solicitá-los após o tratamento, quando planejar engravidar. Importante ressaltar que, nesse caso, é necessária a FIV.
O procedimento para criopreservação de embriões requer a coleta tanto de espermatozoides quanto de óvulos. Para a coleta de óvulos, assim como quando congelamos os óvulos, precisamos inicialmente estimular e controlar a ovulação da paciente para sabermos o dia exato da aspiração folicular (coleta de óvulos); após ambas as coletas, os óvulos são fecundados em laboratório pelos espermatozoides. O resultado da fecundação são os embriões, que então são congelados e mantidos nesse estado até o casal querer ter filhos.
O descongelamento de embriões requer a autorização de ambos os parceiros. Por essa razão, recomenda-se o congelamento de óvulos para a preservação oncológica da fertilidade. Isso evita problemas futuros com a guarda dos embriões, como na separação ou na morte de um dos parceiros.
As mulheres que irão ser submetidas ao congelamento de óvulos ou de embriões costumam precisar de aproximadamente 15 dias entre a primeira consulta com o especialista em reprodução assistida e a coleta de óvulos; assim não existe atraso significativo para o início do tratamento oncológico.
Outro dado interessante é que utilizamos medicações para induzir a ovulação que não provocarão aumento excessivo dos níveis hormonais (inibidores de aromatase). Assim, isso deixa de ser uma preocupação naquelas pacientes com tipos de câncer hormônio-dependentes, como o câncer de mama, por exemplo.
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