A formação dos órgãos que compõem o sistema reprodutivo feminino tem início na vida intrauterina, aproximadamente na 12ª semana após a fecundação, quando são formados os ovários, as tubas uterinas e o útero.
A fertilidade é uma condição que depende desse processo de formação ainda em estágio intrauterino, já que alterações anatômicas do sistema reprodutivo têm origem em problemas nessa fase e podem impactar os processos reprodutivos futuramente, levando à infertilidade feminina.
Sabemos que as alterações uterinas que mais afetam a fertilidade podem se manifestar na agenesia uterina – quando o útero é subdesenvolvido ou ausente – e útero septado (parcial ou completo), arqueado, unicorno e bicorno, todos causados por defeitos em diferentes graus no processo de fusão lateral dos ductos que formam o útero, deixando um septo ou mesmo a divisão total do útero e canal vaginal.
Desses, o útero septado é o tipo mais frequente, sendo responsável por até 12% das perdas gestacionais recorrentes. Nesses casos, a complicação que leva ao aborto de repetição é causada pela redução do espaço para a evolução da gravidez ou por problemas na irrigação sanguínea da placenta.
Acompanhe a leitura do texto a seguir e entenda melhor o que é útero septado e como essa condição realmente afeta a fertilidade feminina.
A maioria das malformações uterinas é resultante de defeitos no desenvolvimento ou fusão dos ductos de Müller durante o processo de embriogênese. Os ductos de Müller são um par de canais que, por volta da 12ª semana, devem fundir parte do seu trajeto para a formação do útero, e conservar canalizados os trechos finais de cada ducto, formando as tubas uterinas.
Em alguns casos, falhas na fusão desses ductos podem resultar na presença de septos, que se projetam para o interior da cavidade uterina, ou até mesmo divisões completas de útero e canal vaginal, quando não há qualquer grau de fusão dos ductos müllerianos.
É comum que as mulheres portadoras de malformações uterinas desconheçam sua condição, já que, na grande maioria dos casos, são assintomáticas. Estudos mostram que 5% da população feminina apresenta malformações uterinas, porém, quando se considera apenas mulheres com histórico de aborto de repetição e partos prematuros, essa incidência sobe para 25%.
Os sinais e sintomas relacionados às anomalias müllerianas, quando ocorrem, variam de acordo com o tipo de defeito apresentado, no entanto, na maior parte dos casos, a mulher só busca investigar essa possibilidade quando encontra problemas para engravidar ou manter a gestação.
O útero septado é a malformação uterina estrutural mais recorrente nas mulheres que apresentam infertilidade e perdas gestacionais, tanto de primeiro, quanto de segundo trimestre. Estudos mostram que 79% de gestações em mulheres com útero septado terminam em abortamento.
No útero septado, a cavidade uterina se apresenta parcialmente preenchida por um septo, que normalmente tem origem no fundo do útero e se projeta em direção ao cérvix. Esse septo pode ser incompleto ou atingir o colo do útero, dividindo completamente o órgão.
Entre a 10ª e a 12ª semanas de desenvolvimento embrionário, o sistema reprodutivo começa seu processo de diferenciação em masculino ou feminino. No caso das mulheres, a ausência do hormônio antimülleriano leva ao desenvolvimento dos ductos müllerianos, que se fundem parcialmente para a formação do útero.
Quando os ductos müllerianos se fundem, a primeira estrutura formada é um septo, que deve ser reabsorvido para a abertura da cavidade uterina. Quando essa reabsorção não acontece corretamente, resquícios das paredes dos ductos müllerianos formam um septo, que parece se projetar para dentro da cavidade uterina, dividindo o órgão.
Não existem sintomas específicos. A malformação não interfere na menstruação, nem na ovulação, nem na vida sexual. A maior parte dos casos é descoberta quando histórico de aborto de repetição ou gestações com parto prematuro sequenciais levam a mulher a investigar as origens da infertilidade.
O útero septado pode ser diagnosticado por exames de imagem, como a ultrassonografia transvaginal e a ressonância magnética, e seu tratamento é feito por intervenção cirúrgica.
O tratamento indicado para recuperar a fertilidade das mulheres portadoras de útero septado consiste na realização da septoplastia por histeroscopia, uma espécie de endoscopia do trato genital.
O procedimento acontece em ambiente hospitalar, com anestesia tipo raquidiana ou sedação. A paciente pode voltar a trabalhar um dia depois do procedimento e recomendamos que evite relações sexuais por pelo menos 14 dias depois do procedimento.
A taxa de abortamento após a septoplastia cai significativamente após a recuperação completa da mulher.
A reprodução assistida pode auxiliar as mulheres com infertilidade devido à presença de útero septado, já que técnicas como a FIV (fertilização in vitro) oferecem a possibilidade de coletar os folículos diretamente dos ovários e promover a fecundação em laboratório.
Porém, dependendo das condições do útero septado, a gestação deve acontecer por útero de substituição. Essa técnica é um procedimento já regulamentado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e uma das técnicas complementares à FIV.
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