O congelamento de óvulos, também conhecido como criopreservação de oócitos, é uma técnica que pode ajudar muitas mulheres a realizar o sonho da maternidade porque os óvulos congelados podem ser fertilizados anos depois em ciclos de fertilização in vitro (FIV) mantendo as mesmas características que tinham antes do congelamento. Assim, com esse tipo de tratamento, a mulher pode tanto melhorar suas chances de gravidez futura, quanto diminuir as chances de alguns tipos de malformações. Essa técnica de reprodução assistida pode ajudar mulheres que:
A técnica começou a apresentar resultados realmente positivos há pouco tempo. A tecnologia e a ciência avançaram e desenvolveram novos processos e procedimentos que fizeram com que o congelamento de óvulos se tornasse muito eficiente.
Inicialmente utilizávamos uma técnica de congelamento lento dos óvulos, mas essa técnica era muito ineficiente. Com o desenvolvimento da vitrificação, uma técnica de congelamento ultrarrápido, houve uma revolução nos resultados desse tipo de tratamento.
Para que você possa entender como funciona o congelamento de óvulos e em quais situações a técnica é indicada, seguem algumas explicações:
Inicialmente devemos realizar uma consulta médica cuidadosa, assim como uma avaliação ultrassonográfica e de exames laboratoriais. Com isso, buscamos identificar fatores médicos que podem impactar nos riscos do tratamento, assim como nas chances de sucesso. Em algumas situações, temos urgência em iniciar os próximos passos, como em situações oncológicas, e nessas iniciamos imediatamente o tratamento, mesmo sem ter os resultados de exames prontos.
A paciente tem que passar por 9 a 12 dias de estímulo da ovulação com indutores da ovulação. Esses indutores são medicações injetáveis. São feitas de uma a três aplicações diárias, por via subcutânea, que a própria paciente pode fazer em casa.
Depois do estímulo da ovulação, a paciente deve ir ao centro cirúrgico para receber uma sedação e ser submetida à aspiração dos seus óvulos. Esse procedimento é realizado por via ultrassonográfica transvaginal. Com uma agulha acoplada ao ultrassom, realizamos a punção dos folículos, aspirando o líquido folicular, onde ficam os óvulos. Esse líquido é enviado ao laboratório de reprodução assistida, em que os embriologistas identificam quantos óvulos foram aspirados e quais têm condições de serem congelados.
A vitrificação é um procedimento mais recente de congelamento de óvulos. Durante o processo de resfriamento, os óvulos são imersos em soluções crioprotetoras, que impedem a formação dos cristais de gelo. O congelamento é feito inicialmente colocando os óvulos imersos em crioprotetores e posteriormente esses óvulos são colocados em pequenas palhetas diretamente em nitrogênio líquido. Em fração de segundos, os óvulos alcançam a temperatura ideal: 196 graus abaixo de zero. A técnica foi desenvolvida por pesquisadores japoneses e se popularizou graças a sua eficiência.
Graças ao congelamento ultrarrápido, as chances de os óvulos serem danificados são muito pequenas e não há modificação ou formação de cristais em sua estrutura.
Atualmente, as mulheres estão se tornando mães com idades mais avançadas do que acontecia há algumas décadas. Porém, após os 35 anos, as taxas de fertilidade feminina caem consideravelmente, fazendo com que seja mais difícil engravidar naturalmente ou mesmo utilizando-se da FIV. Isso acontece pois, desde o nascimento, as mulheres vão perdendo óvulos mensalmente e, com o passar do tempo, tanto o número de óvulos diminui (diminuição da reserva ovariana) quanto sua qualidade piora.
Por isso, o congelamento de óvulos é uma técnica muito indicada para mulheres que, por qualquer motivo, pensam na possibilidade de ter uma gravidez tardia. Nesse caso, a recomendação é realizar o congelamento antes dos 35 anos.
Sempre explico para minhas pacientes que, quanto mais óvulos congelados, melhores serão as chances futuras de gestação. Existe um trabalho científico que nos ajuda a entender quantos óvulos são necessários. Em 2017, Goldman e colaboradores publicaram um trabalho na revista científica Human Reproduction que nos ajuda a predizer as chances de gravidez, conforme a idade da paciente e o número de óvulos congelados. Na Tabela 1, podemos observar quais as chances de um bebê em casa, na dependência da idade e do número de óvulos maduros congelados. Por exemplo, aos 35 anos, se uma mulher congelar 5 óvulos, terá 29% de chances de ter um bebê em casa, mas se conseguir congelar 10, terá 50% de chance de ter um bebê em casa.
Tabela 1 – Chances de um bebê em casa, na dependência da idade e do número de óvulos maduros congelados, 2017
Número de óvulos maduros congelados | Idade | |||||
< 35 anos | 35 anos | 37 anos | 39 anos | 40 anos | 42 anos | |
1 | 7% | 7% | 5% | 3% | 2% | 1% |
2 | 14% | 13% | 9% | 6% | 4% | 2% |
3 | 20% | 19% | 13% | 9% | 7% | 3% |
4 | 25% | 24% | 17% | 11% | 9% | 5% |
5 | 30% | 29% | 21% | 14% | 11% | 6% |
10 | 52% | 50% | 37% | 26% | 20% | 11% |
20 | 77% | 75% | 60% | 45% | 36% | 21% |
40 | 95% | 94% | 84% | 70% | 59% | 37% |
A criopreservação também pode ser realizada com sêmen ou embriões. No caso dos embriões, durante a FIV, o congelamento é indicado tanto em casos de embriões excedentes, quanto como estratégia já na primeira transferência, para maximizar as chances de engravidar em casos específicos (estratégia de freeze-all). Já o sêmen deve ser congelado quando o homem vai realizar tratamentos de câncer ou é diagnosticado com outras doenças que podem provocar infertilidade.
Agora que você já sabe o que é o congelamento de óvulos, leia o conteúdo que escrevi sobre a fertilização in vitro (FIV), assim você entenderá como os óvulos congelados serão fertilizados no futuro.
Referência:
Goldman RH, Racowsky C, Farland LV, Munné S, Ribustello L, Fox JH. Predicting the likelihood of live birth for elective oocyte cryopreservation: a counseling tool for physicians and patients. Hum Reprod. 2017 Apr 1 [cited 2018 Jun 28];32(4):853-9. Available from: https://academic.oup.com/humrep/article/32/4/853/2968357. doi: https://doi.org/10.1093/humrep/dex008.