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Endometriose profunda: saiba mais sobre a doença

Para se ter uma ideia, estima-se que entre 10% e 15% das mulheres em idade reprodutiva em todo o mundo tenham endometriose, enquanto 50% das que sofrem com infertilidade têm a doença.

Mesmo sendo atualmente considerada a doença ginecológica mais comum da mulher moderna, com alta prevalência, afetando a capacidade reprodutiva em muitos casos, a endometriose ainda gera muitas dúvidas.

A endometriose é uma doença inflamatória e crônica. Silenciosa e de crescimento lento, muitas vezes é tardiamente diagnosticada, ainda que possa causar alterações na fertilidade feminina desde os estágios iniciais aos mais avançados. Fizemos uma pesquisa há alguns anos que mostraram que no Brasil pode haver uma demora de 7 anos em média para o diagnóstico ser estabelecido!

A associação dos estágios mais graves da doença com a infertilidade é consenso na literatura médica. Uma das formas da endometriose é a endometriose profunda, que pode provocar, ao mesmo tempo, dor e infertilidade, sintomas que comprometem a qualidade de vida das mulheres portadoras.

Continue a leitura para saber mais!

O que é endometriose e como ela é classificada?

O útero é formado por três camadas, endométrio, tecido que o reveste internamente, miométrio, camada intermediária formada por células musculares lisas e perimétrio, membrana serosa que reveste a parte externa.

O endométrio é formado por células epiteliais, estromas e vasos. Durante o ciclo menstrual, estimulado pela ação dos hormônios sexuais femininos estrogênio e progesterona, se torna mais espesso para receber o embrião: nele o embrião implanta (nidação), fica abrigado e é nutrido até que a placenta seja formada.

Os receptores que reagem aos níveis hormonais promovendo o espessamento quando estão altos, também levam à descamação da camada funcional do endométrio se eles estiverem baixos, o que acontece se não houver fecundação. Assim, ao descamar, origina a menstruação iniciando um novo ciclo.

Na endometriose, um tecido semelhante ao endométrio cresce fora da cavidade uterina, em locais ectópicos como os ovários, as tubas uterinas, ligamentos uterossacros, bexiga ou intestino, por exemplo.

Ainda que as causas de endometriose permaneçam desconhecidas até os dias de hoje, algumas teorias explicam esse crescimento anormal. A mais aceita é a da menstruação retrógada. Ela sugere que fragmentos de células do endométrio que deveriam ser eliminados pela menstruação retornam pelas tubas uterinas e se implantam em outras regiões.

A endometriose pode se manifestar de várias formas, com aderências pélvicas, implantes ou endometriomas, um tipo de cisto ovariano preenchido por líquido achocolatado.

Para classificar a doença alguns critérios são considerados, incluindo o local de implantação, a quantidade e profundidade das lesões, o comprometimento funcional do órgão e o número de endometriomas.

Existem várias classificações da endometriose. A Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva fez uma classificação no ano de 1995 que vem sendo usada até os dias atuais. Nessa classificação encontramos quatro estágios de desenvolvimento: mínima (estágio I), leve (estágio II), moderada (estágio III) ou grave (estágio IV).

Do ponto de vista de localização e tamanho (profundidade das lesões de endometriose), encontramos três subtipos:

  • endometriose peritoneal superficial (lesões localizadas habitualmente no peritônio, com até 5 mm de profundidade);
  • endometriose ovariana (cistos com conteúdo de um líquido semelhante ao final da menstruação, localizados no interior dos ovários);
  • endometriose profunda, também conhecida como endometriose infiltrativa (lesões com mais de 5 mm de profundidade).

Endometriose profunda

A endometriose profunda, caracterizada por lesões mais agressivas e que por isso penetram mais profundamente nas camadas dos locais em que está presente, é a forma mais agressiva da doença.

As lesões podem invadir o peritônio e locais como a região retrocervical (atrás do colo uterino), o septo retovaginal (entre reto e vagina), a vagina, o intestino, as paredes da bexiga e ureteres. Da mesma forma que tendem a provocar distorção na anatomia uterina, dificultando ou impedindo o desenvolvimento e sustentação da gravidez. Podem ainda comprometer nervos, causando dores que podem ser muito intensas.

Além disso, a maiorias das mulheres com endometriose infiltrativa profunda apresenta mais de um tipo de lesão, ou seja, elas poder superficiais, profundas e com a presença de endometriomas, que causam distúrbios de ovulação, como dificuldades no amadurecimento do folículo e liberação do óvulo e afetando também a qualidade.

Já nos estágios iniciais, as citocinas pró-inflamatórias, substâncias secretadas pelo sistema imunitário para combater a inflamação, comprometem a receptividade do endométrio, fundamental para a implantação do embrião ser bem-sucedida, resultando, nesse caso, em falhas e abortamento.

Mulheres com endometriose profunda, portanto, podem ter a capacidade reprodutiva afetada de diversas maneiras. Por outro lado, nesse estágio de desenvolvimento, a endometriose pode causar, ainda, a manifestação de diferentes sintomas.

Quais são os sintomas de endometriose?

Os sintomas que surgem a partir do desenvolvimento do tecido ectópico, incluindo a infertilidade, comprometem de diferentes formas a qualidade de vida das mulheres portadoras, afetando não apenas a saúde física, mas também a psicológica. Veja abaixo os sintomas mais comuns da endometriose:

  • Dismenorreia grave: a condição é caracterizada pela manifestação de cólicas severas antes e durante a menstruação e é o principal sintoma de endometriose;
  • Dispareunia: dor durante as relações sexuais, principalmente quando o tecido invade os ligamentos uterossacros e a vagina;
  • Alterações urinárias: quando invade a bexiga há a manifestação de sintomas como micção frequente e urgente, dificuldade acompanhada de dor e presença de sangue na urina;
  • Alterações intestinais: quando invade o intestino, pode ocorrer constipação de forma cíclica, dor ou dificuldade em evacuar, dor anal e sangramento nas fezes e distensão abdominal.
  • Infertilidade.

Para diagnosticar a endometriose, os principais exames realizados são a ultrassonografia transvaginal com preparo intestinal e a ressonância magnética (RM), que proporcionam o mapeamento de todos os focos da doença, dos superficiais aos mais profundos, incluindo os focos de doença ovariana.

O tratamento é individualizado de acordo com os resultados diagnósticos e as necessidades de cada paciente.

Tratamento de endometriose profunda e reprodução assistida

Quando há o desejo de engravidar ou manifestação de sintomas severos, a indicação é cirúrgica. O tratamento é realizado por videolaparoscopia cirúrgica e tem como objetivo a remoção da maior quantidade possível de aderências, implantes e endometriomas.

A gravidez espontânea geralmente é possível após a remoção, no entanto, se a doença causar danos maiores e não houver sucesso, a fertilização in vitro (FIV) é indicada para aumentar as chances.

Na FIV, após a coleta e seleção de óvulos e espermatozoides, a fecundação é realizada em laboratório. Atualmente, o método mais utilizado pelas clínicas de reprodução assistida é a FIV com ICSI (injeção intracitoplasmática de espermatozoides), em que cada espermatozoide é injetado diretamente no citoplasma do óvulo, aumentando, assim, as chances e, consequentemente, o número de embriões formados.

Os embriões após serem cultivados, também em laboratório, são transferidos para o útero em dois estágios de desenvolvimento: D3 ou clivagem, entre o segundo e terceiro dia e D5 ou blastocisto entre o quinto e sexto dia. A estratégia é definida de acordo com as características de cada paciente. As taxas de sucesso por ciclo do tratamento são, em média, de 40%.

Mulheres que não pretendem engravidar, por outro lado, podem ter os sintomas aliviados por anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs), indicados para dismenorreia, e por medicamentos hormonais, que suspendem a menstruação.

Toque aqui e entenda ainda mais sobre endometriose.

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