A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que um percentual bastante expressivo da população mundial apresente problemas de fertilidade atualmente. Aproximadamente 50% dos casos de infertilidade conjugal estão relacionados a alterações no sistema reprodutivo feminino.
Considera-se oportuno iniciar a investigação da infertilidade feminina ou masculina quando o casal não consegue alcançar uma gestação após um ano de tentativas sem o uso de qualquer tipo de contraceptivo.
Em alguns casos, o quadro pode ser resultado de anovulação; em outros, de problemas na implantação do embrião no útero, decorrentes, por exemplo, de malformações anatômicas.
O útero é um órgão de importância ímpar para o sucesso da gestação, em cada um dos seus estágios. O processo de implantação se inicia de seis a sete dias após a fecundação, e é no útero que o embrião e posteriormente o feto se desenvolvem até o nascimento.
O órgão fornece proteção ao bebê, além de sustentar a rede sanguínea que garante a sua nutrição. A elasticidade típica do tecido que compõe as diferentes camadas do útero se adapta ao desenvolvimento fetal, e a sua capacidade contrátil é o melhor auxílio na fase de expulsão do parto.
As malformações uterinas são falhas congênitas estruturais, que acometem o desenvolvimento e a fusão dos ductos müllerianos, durante a embriogênese do sistema reprodutivo feminino.
Quando os ductos müllerianos não se fundem, a cavidade uterina não é formada e o útero parece duplicado ou completamente dividido ao meio, sendo chamado útero didelfo ou duplo.
O tratamento recomendado é a correção cirúrgica, especialmente para as mulheres que desejam engravidar, já que as alterações na anatomia uterina podem afetar a fertilidade, resultando em falhas na implantação embrionária ou abortos de repetição.
Quer saber mais sobre útero didelfo ou duplo? Acompanhe a leitura do texto a seguir!
A maioria das malformações uterinas é resultado de defeitos no desenvolvimento ou fusão dos ductos müllerianos durante a embriogênese. Não se sabe ao certo quais as causas dessas falhas, porém acredita-se que possam não ser exclusivamente hereditárias, mas multifatoriais.
Entre a 10ª e a 12ª semanas de desenvolvimento embrionário, o sistema reprodutivo feminino começa a ser formado, a partir da regressão dos ductos mesonéfricos e da diferenciação dos paramesonéfricos em útero e tubas uterinas.
A vagina, por sua vez, se desenvolve a partir do seio urogenital, estabelecendo uma grande proximidade com o trato urinário.
Os ductos paramesonéfricos dão origem aos ductos müllerianos, um par de estruturas que posteriormente deve se fundir parcialmente para formação do útero.
Quando os ductos müllerianos se fundem, forma-se uma espécie de septo, resultado da união das paredes desses ductos, que deve ser reabsorvido.
Quando a fusão dos ductos müllerianos se completa, o espaço que fica entre as paredes externas dos ductos forma a cavidade uterina.
Em alguns casos, porém, esse processo apresenta falhas, que podem resultar na ausência de fusão dos ductos müllerianos e na formação de duas cavidades uterinas. Essa condição é chamada útero didelfo ou duplo.
A incidência dessa malformação uterina representa aproximadamente 11% das anomalias anatômicas que acometem o útero, sendo considerada relativamente rara. O útero didelfo acontece quando os ductos müllerianos não apresentam nenhum grau de fusão, mantendo a divisão inicial e resultando na duplicação do corpo uterino e da cérvice.
Sabe-se que, em 23% dos casos, as mulheres apresentam malformações anatômicas no trato urinário concomitantes ao útero didelfo.
Se comparado a outras malformações uterinas, o útero didelfo não provoca problemas que impedem a fecundação, porém, pode prejudicar a gestação em curso, levando a abortamentos e parto pré-termo, já que o espaço para o desenvolvimento fetal fica comprometido.
A maior parte dos casos de útero didelfo é assintomática, sendo mais frequentemente descoberto nos exames ginecológicos de rotina ou quando a mulher apresenta um histórico de abortos de repetição, gestações com parto prematuro sequenciais e inicia investigação de infertilidade.
Quando apresenta sintomas, as principais manifestações clínicas são as relacionadas à dor durante as relações sexuais, que pode ocorrer desde o início da vida sexual.
Dessa forma, o exame ginecológico é o primeiro passo no diagnóstico, e a suspeita de útero didelfo deve ser confirmada por exames de imagem. Inicialmente, os mais adequados são as ultrassonografias transvaginal ou pélvica e a histerossalpingografia, e, nos casos mais complicados, costuma-se indicar uma avaliação adicional com ultrassonografia tridimensional e ressonância magnética.
Esses dois últimos são considerados os melhores exames não invasivos para o diagnóstico das anomalias uterinas.
O tratamento para as anomalias uterinas congênitas é exclusivamente cirúrgico e seu objetivo central é a restauração da estrutura uterina e a preservação da fertilidade. A metroplastia é o procedimento cirúrgico mais recomendado.
É importante ressaltar que o tratamento cirúrgico nem sempre é eficaz, já que o útero didelfo pode estar também acompanhado de alterações vasculares ou funcionais do endométrio, miométrio e colo uterino.
Nos casos em que a cirurgia para correção do útero didelfo não consegue restabelecer a fertilidade da mulher, o melhor tratamento para engravidar são as técnicas de reprodução assistida de alta complexidade e necessariamente deve incluir a gestação por substituição.
A gestação por substituição ou cessão temporária do útero é uma técnica complementar à FIV (fertilização in vitro) em que o embrião é formado pelos gametas dos pais e transferido para o útero de outra mulher.
A regulamentação do Conselho Federal de Medicina para a escolha da mulher que participará da gestação de substituição concedendo seu útero determina que ela deve ter menos de 50 anos e um grau de parentesco de até quarto grau com uma das pessoas do casal.
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