Para que ocorra uma gestação, é preciso, primeiro, que haja gametas masculinos (espermatozoides) e femininos (óvulos). Enquanto o homem produz espermatozoides continuamente, a mulher já nasce com todos os folículos ovarianos (uma estrutura ovariana que parece uma pequena bolsa com líquido e apenas um óvulo no seu interior) que terá ao longo da vida.
Alguns dados interessante sobre os folículos e óvulos durante a vida das mulheres:
A falta ou má qualidade dos gametas implica problemas de infertilidade e pode inviabilizar uma gravidez. Nas técnicas de reprodução assistida, é possível contar com a doação de gametas para suprir essa falta. No caso da doação de sêmen, o processo é mais simples, pois é realizada por meio da masturbação.
Já a doação de óvulos ou ovodoação é um procedimento mais complexo. Entenda abaixo como ela acontece e em quais casos ela é indicada.
A cada ciclo menstrual, um folículo cresce e libera um óvulo maduro, fenômeno chamado ovulação. Se esse óvulo for fecundado por um espermatozoide, ocorre a gravidez. Caso isso não aconteça, o endométrio, mucosa que reveste o útero e se preparou para receber um embrião, descama na forma de menstruação – e um novo ciclo começa.
Esse processo contínuo de ovulação e menstruação, com o tempo, consome todos os folículos. O conjunto de todos os folículos nos ovários é chamado de reserva ovariana.
Por isso, muitas vezes, a indicação para recorrer à ovodoação é para mulheres com idade avançada ou outros problemas que levem a uma baixa reserva ovariana, como a falência ovariana precoce (FOP), bem como aquelas que têm óvulos de baixa qualidade.
Como a ovodoação requer a retirada dos óvulos dos ovários, da fertilização em laboratório e então da transferência para o útero de outra, ela acontece necessariamente dentro de um tratamento de reprodução assistida, especificamente a FIV (fertilização in vitro).
O Conselho Federal de Medicina (CFM), em sua resolução nº 2.168/2017, estabelece algumas normas para a doação de gametas, tanto masculinos como femininos. Entre elas estão:
A resolução do CFM prevê uma situação conhecida como doação compartilhada de óvulos. Ela é realizada por duas mulheres com problemas de reprodução e consiste no compartilhamento tanto dos óvulos quanto dos custos financeiros do tratamento de reprodução assistida.
Nessa modalidade de ovodoação, ambas as mulheres passam pelo processo de FIV. A paciente que doará os óvulos fará o tratamento de estimulação ovariana.
Nesse período, iniciado no começo do ciclo menstrual, a mulher utiliza medicamentos à base de hormônios que irão estimular os folículos a se desenvolverem, com o objetivo de produzir uma grande quantidade de óvulos.
Durante todo o processo, acompanhamos o crescimento dos folículos com exames de ultrassonografias a cada dois dias, até que estejam em um estágio adequado para serem coletados.
Já a paciente que receberá o material faz a preparação do endométrio para a transferência dos embriões. Isso é realizado por meio do uso de medicamentos à base de estrogênio e progesterona.
A doadora deve corresponder a todos os critérios exigidos pelo CFM. Também conforme a resolução do órgão, todo o processo exige confidencialidade a respeito da identidade das duas pacientes.
Após a punção (procedimento de retirada dos óvulos da doadora), parte dos óvulos fica com a doadora e os demais, com a receptora. Esta, por sua vez, custeia parte do tratamento da paciente que fez a doação. A fertilização é realizada em laboratório, como no processo padrão da FIV, e o sêmen utilizado é do parceiro respectivo.
Não há a necessidade de ambas as mulheres estarem simultaneamente no processo de FIV. A doadora pode fazer a doação e realizar seu tratamento em outro momento futuro.
Atualmente, o CFM permite que mulheres doem óvulos de forma altruísta para outras que precisem. Antes da última resolução, apenas sêmen podia ser doado dessa forma.
A ovodoação voluntária é feita de maneira semelhante à doação compartilhada, mas sem a necessidade de compartilhamento. A mulher vai à clínica para fazer a avaliação e passar por todo o procedimento de estimulação ovariana e coleta dos óvulos.
Na sequência, esses óvulos são congelados e permanecem em condições ideais de armazenamento até que outra mulher, a receptora, precise deles, quando são descongelados e utilizados em um tratamento necessariamente de FIV. Não é possível utilizar óvulos doados em relação sexual programada (RSP) nem em inseminação artificial (IA).
A ovodoação, portanto, é um processo complexo, mas que pode ajudar muitas mulheres a realizarem o sonho de serem mães. Se você quer se aprofundar seu conhecimento sobre o assunto, toque aqui e leia mais.