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Endometriose, dor pélvica e infertilidade

Um sintoma comum entre muitas doenças que causam infertilidade feminina, a dor é um fenômeno fisiológico mais conhecido pelos incômodos do que pelas importantes alterações que sinaliza.

Muitos estudos dedicam-se a compreender os mecanismos por trás dos diferentes tipos de dor atualmente, e sobre como podem ser indicativos de alterações e doenças específicas, funcionando como verdadeiros sinalizadores do corpo humano.

De forma geral, podemos dividir os tipos de dor a partir dos tecidos lesionados em dores neuropáticas, quando estruturas do próprio sistema nervoso são afetadas, como nos casos de AVC, esclerose múltipla e lesões na medula, e dores nociceptivas ou inflamatórias.

As dores inflamatórias são sensações disparadas a partir do contato entre os tecidos lesionados e os nociceptores, ou receptores nervosos para dor, parte do sistema nervoso central.

É possível também classificar as dores inflamatórias entre somáticas, quando se manifestam na superfície do corpo, e viscerais, quando sinalizam problemas especialmente localizados na cavidade abdominal e pélvica.

A endometriose é um exemplo de doença inflamatória que tem na dor pélvica um dos seus principais sintomas, e cuja intensidade depende da severidade com que a doença se manifesta em cada caso.

A infertilidade também é um sintoma típico de algumas formas de endometriose, especialmente quando as infiltrações se localizam nos ovários e nas tubas uterinas, prejudicando a ovulação (e a reserva ovariana) e a fecundação, respectivamente.

Este texto mostra qual relação a endometriose tem com seus dois principais sintomas, dor pélvica e infertilidade, abrindo espaço para mostrar também algumas possibilidades de tratamento para esses casos. Continue a leitura!

O que é dor pélvica?

Chamamos de dor pélvica todas as formas de dor que se manifestam no baixo-ventre ou cavidade pélvica – uma das divisões da cavidade visceral, que também compreende a cavidade torácica, situada acima do diafragma, e a cavidade abdominal, localizada entre o diafragma e a cavidade pélvica.

Os órgãos localizados nessa região compreendem parte do aparelho urinário, a porção final do aparelho digestório – os intestinos – e todo o sistema reprodutivo, e a maior parte das manifestações de dor nessa região indicam a presença de processos inflamatórios em qualquer um desses órgãos.

Isso faz da dor pélvica um sintoma muito comum, compartilhado por boa parte das doenças que acometem as estruturas mencionadas, especialmente as enfermidades ginecológicas, que inclusive podem refletir em outros órgãos, como a bexiga e os intestinos.

Dentre as principais doenças ginecológicas que causam dor pélvica, podemos destacar:

Com exceção da DIP e dos casos de endometrite, normalmente causados por agentes infecciosos como a clamídia, todas as doenças mencionadas provocam dor pélvica por desencadearem processos inflamatórios, de origem diversas e com consequências igualmente diferentes.

Qual a relação entre a endometriose e a dor pélvica?

A relação entre a dor pélvica e a endometriose deve ser avaliada sempre de dois pontos de vista: os prejuízos fisiológicos da endometriose e também aqueles que se referem a aspectos biopsicossociais, especialmente nos casos em que as dores são intensas a ponto de se tornarem incapacitantes.

O fato de a dor localizada ou difusa ser um sintoma compartilhado por muitas doenças que afetam a cavidade pélvica faz do diagnóstico da endometriose um processo relativamente difícil, que normalmente se obtém após a exclusão da possibilidade de outras doenças.

Essa dificuldade em realizar o diagnóstico pode se manifestar também em um tempo maior para a busca pelo tratamento que consiga amenizar os sintomas dolorosos, devolvendo à mulher um nível adequado de qualidade de vida.

A endometriose é, atualmente, um dos principais motivos para que mulheres se afastem do convívio social e também de abstenções no trabalho, especialmente nos casos mais graves em que os sintomas dolorosos são praticamente incapacitantes.

Fisiologicamente, os sintomas dolorosos da endometriose são provocados por processos inflamatórios, disparados pelos focos endometrióticos e que afetam os órgãos em que essas infiltrações estão presentes.

Por ser uma doença estrogênio-dependente, a ação desse hormônio, central para manutenção do ciclo reprodutivo, estimula uma resposta proliferativa dos focos da doença, que respondem ao estrogênio da mesma forma que o endométrio original.

A localização ectópica dos focos leva essa proliferação a disparar um processo inflamatório local, que provoca uma dor do tipo nociceptiva, podendo ser localizada ou irradiada, de forma semelhante a uma cólica menstrual muito intensa.

Qual a relação entre endometriose e infertilidade?

A endometriose corresponde a aproximadamente 50% dos casos de infertilidade, portanto nem sempre ela oferece um risco real para a função reprodutiva das mulheres.

Uma das manifestações da doença são os endometriomas, cistos que se formam nos ovários e podem prejudicar a reserva ovariana.

A reserva ovariana da mulher – ou seja, todas as suas células reprodutivas – está localizada no córtex ovariano, região mais externa do órgão e local em que ocorre o recrutamento e amadurecimento dos folículos ovarianos, um processo que resulta na ovulação.

Tanto o crescimento do cisto quanto a interferência dele no equilíbrio do estrogênio ovariano podem prejudicar o desenvolvimento e amadurecimento dos folículos e óvulos, podendo levar à infertilidade por anovulação (ausência de ovulação).

A endometriose pode também causar infertilidade feminina quando os implantes da endometriose aderem às tubas uterinas.

O processo inflamatório desencadeado pela endometriose tubária leva à formação de edema, em que o acúmulo de líquido na região pode obstruir a passagem das tubas uterinas.

A obstrução tubária pode afetar a fecundação ou dificultar a saída do embrião para a implantação uterina, provocando gestação ectópica, que pode inclusive ser fatal.

É possível tratar a infertilidade e a dor pélvica da endometriose?

Uma das abordagens mais simples para endometriose é o tratamento medicamentoso, a base de contraceptivos orais combinados, que podem auxiliar na diminuição da intensidade e da frequência das cólicas menstruais e dores pélvicas. Porém, justamente por sua função contraceptiva, é contraindicado para mulheres com planos de engravidar.

Além disso, o tratamento medicamentoso não leva à regressão dos focos do doença e, por isso, a abordagem mais efetiva para endometriose, principalmente para os casos mais severos, é a retirada cirúrgica, realizada principalmente por videolaparoscopia. No entanto, a intervenção pode afetar a reserva ovariana, por isso indicamos à paciente fazer o congelamento dos óvulos antes da cirurgia.

Na maior parte das vezes, a retirada dos focos é capaz de controlar os sintomas dolorosos e reverter o quadro de infertilidade, porém, em alguns casos, mesmo após o tratamento, a mulher continua tendo dificuldades para conseguir engravidar.

Para esses casos, ou quando a endometriose não é o único diagnóstico para determinar a infantilidade feminina, a reprodução assistida é uma indicação importante.

Em casos de endometriose, geralmente indicamos a FIV (fertilização in vitro), embora, dependendo do caso, também seja possível indicar a IA (inseminação artificial). A indicação é individualizada e feita depois de uma investigação detalhada tanto da mulher como do parceiro.

Quer saber mais sobre endometriose? Acesse o link.

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