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Endometriose e multiparidade: existe relação?

A endometriose, ao lado de doenças como miomas uterinos e SOP (síndrome dos ovários policísticos), é uma das doenças que mais afeta a fertilidade das mulheres em idade reprodutiva, e pode ser considerada um verdadeiro fantasma para aquelas que, enquanto estão tentando engravidar, observam dificuldades nesse processo.

Algumas pessoas sabem que os riscos de endometriose estão associados, entre outros aspectos, à quantidade de gestações, porém, na maior parte das vezes, essa relação não é clara, e muitos acabam não sabendo ao certo se ter filhos aumenta ou diminui as chances de desenvolver endometriose.

O objetivo deste texto é esclarecer a relação entre gestações e os riscos de desenvolver endometriose, especialmente para as mulheres em idade reprodutiva.

O que é multiparidade?

A palavra multiparidade significar múltiplas gestações. A mulher que passou por duas ou mais gestações é considerada multípara. Assim, a definição médica para multiparidade refere-se à ocorrência de duas ou mais gestações durante a vida fértil de uma mulher.

É importante ressaltar que as consequências da multiparidade independem da forma como a gravidez ocorreu, incluindo as gestações por via natural e também aquelas obtidas com auxílio da reprodução assistida.

Existe relação entre a multiparidade e a endometriose?

Sim, é considerado um consenso na comunidade médica que gestações precedentes podem ser um fator protetivo para o aparecimento dos diversos tipos de endometriose, em função das especificidades da dinâmica hormonal durante a gravidez.

Isso pode ser demonstrado pela baixíssima incidência de endometriose em mulheres multíparas, que não passa de 5% dos casos.

Entende-se também que a gravidez em si pode atuar como inibidor do crescimento de focos endometrióticos preexistentes.

Para compreender a relação entre a existência de gestações precedentes (multiparidade) e o risco para endometriose, é necessário conhecer o funcionamento da endometriose e observar como os estrogênios e a progesterona agem nas células endometriais, no ciclo menstrual e também durante a gestação.

Como as gestações podem diminuir os riscos para endometriose?

A endometriose é definida pelo aparecimento de tecido endometrial ectópico, ou seja, que se desenvolve fora da cavidade uterina, mais comumente aderido a outros órgãos e estruturas da cavidade pélvica.

Da mesma forma que o endométrio original, os focos endometrióticos respondem à ação dos estrogênios durante o ciclo reprodutivo, fazendo da endometriose uma doença classificada como estrogênio-dependente.

A função reprodutiva das mulheres é organizada de forma cíclica e regulada por uma dinâmica hormonal que envolve hormônios hipotalâmicos, hipofisários e ovarianos. Esses hormônios promovem transformações do ponto de vista ovariano, relacionadas à ovulação, e uterino, especialmente relacionadas à composição do endométrio, camada de revestimento da cavidade uterina.

Durante a fase proliferativa, que compreende o início do sangramento menstrual até o momento da ovulação, o estrogênio é o principal hormônio que interage com o endométrio, fazendo com que as células desse tecido se multipliquem e essa camada uterina fique mais espessa.

Um dos eventos que acontece após a ovulação é a formação do corpo-lúteo, a partir das células foliculares resquiciais nos ovários, e uma das principais funções desta estrutura é dar início a produção de progesterona, um hormônio que também atua na composição do endométrio.

Enquanto os estrogênios são responsáveis pela multiplicação das células endometriais e também pelo aumento da vascularização desse tecido, a progesterona inibe a proliferação celular e reorganiza o tecido endometrial, tornando-o homogêneo e estável para receber o embrião, caso a fecundação ocorra.

Quando a fecundação não ocorre, há uma regressão do corpo-lúteo e com ela o fim da produção de progesterona e estrogênio, paralelamente a um aumento acumulativo da concentração de prostaglandinas na superfície do endométrio, o que provoca a descamação desse tecido, expelido na forma de sangue menstrual.

Se houver fecundação, as prostaglandinas são inibidas e o corpo-lúteo continua produzindo progesterona durante todo o 1º trimestre da gestação, quando essa função é assumida pela placenta, que produz progesterona durante toda a gestação, até o parto.

Como podemos observar, quando a mulher engravida, seu corpo passa aproximadamente nove meses exposto à ação contínua da progesterona, que, além de atuar na manutenção da gestação, também controla a proliferação das células endometriais, inclusive aquelas que compõem os focos de tecido endometrial ectópico, como nos casos de endometriose.

Por isso a multiparidade é considerada um fator de proteção para o risco de desenvolvimento da endometriose, que também é estatisticamente mais encontrada em mulheres nulíparas, aquelas que nunca tiveram filhos, confirmando essa dinâmica.

Endometriose e reprodução assistida

A infertilidade pode ser um sintoma da endometriose. A doença pode afetar as chances de ter filhos de inúmeras formas. Para esses casos, a reprodução assistida pode ser indicada, e a técnica escolhida considera a localização e a profundidade das infiltrações da doença, bem como outras características de cada caso. O tratamento da endometriose é individualizado e também depende dos planos da paciente.

A IA (inseminação artificial), assim como a FIV (fertilização in vitro), conta com uma etapa inicial de estimulação ovariana, que promove o crescimento de um número maior de folículos, que ficam nos ovários e guardam os óvulos. Cada folículo tem 1 óvulo (às vezes não há óvulo dentro do folículo).

A estimulação ovariana na IA tem o objetivo de obter até 3 óvulos, pois um número maior aumentaria o risco de gestações gemelares, que devem ser evitadas. Já na FIV, a estimulação ovariana pode conseguir um número muito maior de óvulos porque o risco de gestação gemelar está associado à transferência de uma quantidade maior de embriões, não ao desenvolvimento de um número grande de folículos durante a estimulação ovariana.

Para indicar a melhor técnica para a mulher realizar o sonho de ter filhos, fazemos uma investigação detalhada da endometriose e de outras condições que podem estar associadas à infertilidade (inclusive masculinas). Só assim é possível oferecer boas chances de sucesso.

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